
FUNDADORAS
A União faz a diferença!
COLETIVIDADES
O site denominado Acervo Encontro de Danças Urbanas foi idealizado por mim, Yuriê Perazzini, no qual venho dedicando-me ao resgate da memória do histórico das danças urbanas capixabas. É fato que, já havia danças urbanas (breaking/popping/locking/baile charme) no território capixaba, e que antecedem a este recorte que estamos trazendo aqui. Porém, precisamos começar de algum lugar e o lugar decidido para este acervo é a partir do Encontro de Danças Urbanas - EDU.
O desejo de ver pessoas dançando juntas, sem a necessidade de ter batalhas ou competições, ou, a necessidade de ter que ter 18 anos para poder frequentar as casas noturnas, os clubes ou as quadras dos bailes, também foi um marcador para a criação deste evento que se iniciou no dia 16 de maio de 2009, num sábado, na Praça dos Namorados em Vitória-ES, com uma caixa de som a bateria e um pendrive com as músicas que tínhamos na nossa playlist. A partir disso, surgiu o desejo de unir pessoas, que abraçariam a proposta com responsabilidade e compromisso, para produzir os eventos. Foi assim que surgiu o coletivo UDES - União de Dançarinos do Espírito Santo, e que no ano de 2021, com a entrada de outras pessoas, não binárias e LGBTQIAPAN+ mudamos o nome para “Dançarines”.
Coletividades


O coletivo foi criado por Zênia Cáo e eu. Não tínhamos pretensão nenhuma de sermos referências, na verdade, não pensamos nisso, não era a vaidade e o ego que nos movia. Realmente vimos que havia uma demanda social e cultural e nos debruçamos para contribuir com nosso estado e com a inclusão das street dances, visto que já tínhamos viajado para outros lugares do Brasil e encontramos eventos incríveis como as JAM na Olido em São Paulo feitas pelo Frank Ejara, os eventos em Valinhos feito por Ralph William e o Festival de Hip Hop em Curitiba feito por Octávio Nassur. Sabíamos que seria impossível fazermos sozinhas, pois já tínhamos experiência em outros eventos que fizemos, como mostras culturais voltadas para os grupos de street dance capixabas, um exemplo foi o “Urban Dance Festival”, no teatro Carmélia em 2005, Vitória e foi bem desafiador. Nossa proposta era diferente do que já rolava nos eventos que antecedem ao nosso. Já havia o Festival de Street Dance e também o Terminal de Laranjeiras. Ambos tinham a vibe competitiva, um voltado para as escolas de danças e outro voltado para o Breaking, respectivamente.
Mas, queríamos mais!
Dedicamos a união das diversidades e das diferentes linguagens das street dances e principalmente, as diversidades das pessoas. Sabíamos que muita gente que curtia essas danças, não tinha dinheiro para pagar aulas de dança, também não tinha acesso aos equipamentos da prefeitura (com estrutura de som e salas voltadas para atividades de dança), além de que muitos desses equipamentos não se dedicavam às danças urbanas, não investiam nos profissionais qualificados e nem em palestras formativas com esse tema. Zênia e eu, tivemos acesso às diferentes linguagens e/ou estilos de danças com pessoas referências nacionalmente e internacionalmente.
Em 2007 fomos estudar em São Paulo, na Casa da Dança, as teorias e bases fundantes de cada estilo das danças, e ao retornar para Vitória, ensinamos a galera passo por passo, ritmos, musicalidades, improvisos, danças sociais, a fim de realmente compartilhar o saber e não monetizar. Sim, fizemos tudo isso de graça, queríamos realmente fazer uma revolução local, como também conhecer as pessoas que se interessavam pelas danças.
E foi assim que aconteceu o EDU, unindo pessoas, desejos, num ambiente mais tranquilo, democrático e que transbordasse alegria de estar vivo. Beneficiando cada uma e cada um em sua especificidade, sentindo o poder dos benefícios que a dança nos traz através da autoestima, do seu próprio autoconhecimento, sem julgamentos, apenas por ser quem você quer ser, com seu estilo, seu jeito de se mover. O que valia era sua presença. Nossa divulgação se iniciou através do Orkut, onde criamos comunidades para se encontrar presencialmente. Fizemos a nossa comunidade da dança, criamos o coletivo UDES, no qual não veio através de um curso de produção cultural ou de uma instituição formal. Nasceu do desejo insurgente de ocupar as ruas com corpos que dançam, corpos que existem, que resistem e que reencantam o mundo por meio da arte, do afeto e das danças afros.
Nossa nostalgia de hoje é fruto direto da escuta sensível do nosso Orí, do impulso da juventude e da força ancestral que nos atravessa. Nosso desejo era criar espaços seguros e afirmativos, onde fosse possível dançar sem ser recriminada, inclusive dentro dos próprios territórios da cultura hip hop. A UDES começou com cerca de 13 a 17 integrantes e logo se consolidou como um coletivo que movimentava a cena das danças urbanas capixabas e dos festivais. Nosso primeiro grande projeto foi o Encontro de Danças Urbanas (EDU), que promovemos mensalmente entre 2009 a 2020 nas praças públicas da Grande Vitória.
Alguns nomes da galera que passou pela UDES: Priscila Charpinel (em memória), Rodrigo Viegas - Ted, Thais de Luca, Juliano Eliseu - Chapolin, Rayane Coutinho, Cristian, Vivian Correia, Ada koffi, Marcel Rosário - Ronaldinho, Daniela, Jay Sant’, Thayna Thayane, Erick Santos de Oliveira, Paulo César - Thor, Lory Nascimento, Dayane Castro, Thiago Silva, Alex Fagundes, Guilherme - Popping, Dheison Rodrigues dos Santos, Karla Lugon, Manuela Calmon, Renan Castro, Raffaella Santos, Janderson Passos, Laiz Cuzzuol, os djs que somaram muito em muitos eventos Dj ErickJack, Dj Jota de Vitória e WC no Beat, entre outras pessoas que não fizeram parte do coletivo mas sempre estavam disponíveis para ajudar em tudo. O encontro também foi o lugar de iniciação de outras pessoas da cena urbana, como Camila Mendes e Dj Deb - Débora Schulz. Também contamos com participações especiais de Dj Jone BL, Dj Gegeo e Sista Ilu.
Nós nos unimos em prol do crescimento das Danças Urbanas e do cenário das ações e manifestações urbanas no ES, visando oportunizar espaços e meios de viver a diversidade das danças afros, street dance, danças urbanas, a cultura hip hop e a sound system. Partindo do princípio que se temos um sonho, podemos realizar na frequência da união - UBUNTU, ou seja, em coletivo.
O Encontro de danças Urbanas foi verdadeiros quilombos urbanos, onde se misturavam freestyle, oficinas, batalhas, discotecagem, performances, rodas de conversa e muita dança. As praças públicas se tornavam espaços de formação e partilha, atravessados por vozes pretas, periféricas, LGBTQIAP+ e femininas.
Em uma de nossas reuniões, surgiu a sigla UDES, formulada por Thais de Luca no qual condensa os pilares do nosso coletivo:
-
U: União
-
D: Dançarines (dançarinas e dançarinos)
-
E: Espírito
-
S: Santo

Lancei algumas perguntas para Zênia, pois não queria escrever sozinha esse texto e ela nos conta que:
“A UDES nasceu como uma iniciativa minha e da Yuriê, movida pelo desejo de transformar o cenário das danças urbanas no Espírito Santo. Naquele momento, sentíamos que faltava um espaço onde os dançarinos pudessem se reunir com propósito — não apenas para dançar, mas para construir comunidade, compartilhar conhecimento e fortalecer vínculos de respeito. Sozinhas não conseguiríamos movimentar tanta gente. Por isso, formamos um time com pessoas próximas como Pri Foquinha e Fagundes, e logo abrimos espaço para todas e todos que quisessem somar nessa construção do grupo chamado União dos Dançarinos do Espírito Santo.
Em 2009, eu e a Yuriê começamos a participar de eventos de danças urbanas fora do estado. Lá fora, vimos um cenário bem diferente e empolgante, com estruturas que valorizavam as danças urbanas em suas múltiplas linguagens. Aquilo não existia no Espírito Santo, e essa ausência nos incomodou profundamente, a gente podia desistir ou continuar. Decidimos continuar e que não dava mais para esperar, mesmo sem apoio financeiro, começamos a criar aqui a realidade que desejávamos ver.
Queríamos um espaço onde fosse possível dançar com liberdade e alegria, encontrar outros dançarinos, trocar experiências e fortalecer todas as vertentes das danças urbanas em um só lugar. A UDES são as pessoas, o EDU foi o evento a partir disso. Assim nasceu o Encontro de Danças Urbanas — como uma roda aberta, acolhedora e amigável, onde cada pessoa se sentisse pertencente. Nosso sonho era que essa iniciativa inspirasse outras pessoas a criarem grupos, descobrissem novos estilos e se expressassem com o corpo, a dança e personalidade”.
E hoje estamos aqui, registrando essa passagem significativa desse evento que transformou as nossas vidas e o contexto das danças urbanas periféricas e pretas no território capixaba. Foram 16 anos dedicados a esse movimento, com mais de 200 edições, sem contar as formações, eventos em escolas, projetos sociais, empresas privadas, projetos com a Secretaria de Cultura do Estado (Secult). Dentre esses 16 anos, vivemos muitas coisas, muitos eventos sem grana nenhuma e em outros momentos com aprovação em editais de apoio à cultura em diferentes áreas, como dança, diversidade cultural, rede cultura jovem, acervo e cultura hip hop. Passamos pela pandemia com ações virtuais durante esse momento super difícil que a humanidade viveu. E hoje estamos aqui, apresentando parte desse material que temos em nosso acervo pessoal. Desejamos que este acervo te ajude a dar continuidade aos movimentos sócio/cultural, político, educacional, artístico e onde mais as danças urbanas quiserem te levar. Siga Dançando! Acredite que o que você faz pode parecer pequeno, mas está sim, fazendo a diferença na sua vida e na de quem está por perto. Mete dança!
Zênia Cáo e Yuriê Perazzini, fundadoras e criadoras da UDES e do Encontro de Danças Urbanas!
