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COLETIVIDADES

HOJE TEM BAILE BLACK

Bárbara Maia Cerqueira

É sábado e hoje estou me arrumando porque tem baile black. Marquei com a minha trancista um penteado novo e fiz alongamento das minhas unhas e cílios. Garanti com o look de crochê nas cores verde, amarelo, preto e vermelho – cores que fazem referência às bandeiras de países africanos. O baile acontece no Pelourinho, um quilombo urbano no centro de Salvador, capital da Bahia, a cidade mais negra fora da África. O Pelourinho que já foi um lugar de comercialização e outras atrocidades com africanos escravizados para essa terra, que já foi um bairro residencial com famílias negras compartilhando a moradia em seus sobrados, famílias essas expulsas quando numa decisão autoritária na década de 1990 se tornou um polo turístico retrato da cidade negra para turista ver. Um território com história e cultura tão ricas que segue sendo um quilombo urbano, espaço-tempo de resistência da cidade negra, onde a alegria das festas compartilha espaço com famílias que resistem e permanecem vivendo. É no baile black, no Pelourinho, onde vou celebrar minha negritude junto com os meus. No movimento do meu corpo que carrega os códigos que se reconhecem em diáspora. O baile faz o dinheiro circular entre nossas mãos, da trancista ao DJ, fazemos o que hoje chamam black money e é uma das estratégias de enriquecimento coletivo. Quando danço e balanço minhas tranças enfeitadas com búzios, registro em meu corpo o gesto resistência pela estética. O que não é estética em todas essas escolhas? Estética que se corporifica em meu corpo-texto que guarda uma história que tem sido recontada a partir de nossa experiência em muitas línguas. Para nós, a dança tem sido usada para manter viva em nosso corpo, a nossa história, uma forma de existirmos apesar das estratégias coloniais de aniquilamento. Se danço, estou viva, vivona e vivendo.

Bárbara Maia Cerqueira é doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro com a tese "Escrevivências em audiovisualidades: a potência das imagens narrativas para a negritude” (2024). Organizou o Livro Mulheres Negras na Tela do Cinema, publicado em 2020, pela Editora Pedregulho. Idealizou e coordenou o Cineclube Afoxé (2017-2022) e Festival Cinema também é Quilombo (2021). Na área cultural acumula diversas experiências desde o ano de 2015 com pesquisas, publicações, curadoria, ministra oficinas na temática Cinema e Educação, Cinema Negro, Cinema de Mulheres, além de atuar como pareceristas em editais públicos municipais e estaduais.

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